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quarta-feira, agosto 26

nota 5,0

Como é difícil postar. Escrever algo genial para que um ou dois amigos comentem dizendo que gostou, acrescentando um dado, uma piada... Difícil ser genial todo o tempo. E sempre que penso nisso, lembro das frases filosóficas de geladeira que eu tanto gosto. "tenha uma vida perigosa, faça pipoca com a panela sem tampa" (ou algo assim)... essas frases incríveis que a gente lê como frase bíblica.

Uma das minhas favoritas é uma ode à mediocridade: "uma idéia razoável colocada em ação é muito melhor que uma grande idéia arquivada". Ela estava na geladeira carioca e eu trouxe pra cá. Sim, o imã viajou comigo milhas e milhas para me servir de inspiração. Não era bem para esse momento-blog, mas para, quando começasse a escrever a dissertação de mestrado, eu olhasse para ela e disesse, "ok, serei razoável, não vou pensar em cada palavra.

Isabel, lembre-se "uma idéia razoável colocada em ação é muito melhor que uma grande idéia arquivada". Lembre-se, lembre-se sempre disso, Isabel!!! E hoje finalmente ela me veio à cabeça. Não para o mémoire. Mas para lembrar-me que não consigo postar nada decente há séculos. De que tenho idéias incríveis para os blogs, mas elas simplesmente não saem do papel ou do disco rígido (seja do computador ou da cabeça).

Pois vamos fazer uma ode à mediocridade. O que há de mal em ser medíocre? Mediana. Nem mais nem menos, na medida. Pas mal, hein? É, médio é um bom tamanho, médio é legal. In beetween.

E eu não vou citar ninguém importante. Texto medíocre não pode ter idéias, citações de outros. Tem que ser seu. É a autenticidade da mediocridade! Cool..., medíocre é também ser original. Sem pretenções. Detesto gente pretenciosa.


(esse post estava arquivado no HD do computador desde o dia 14/11/2008).

sexta-feira, julho 31

mais lembranças da infância

boas lembranças do tempo que não existia colesterol, mitocôndrias nem o politicamente correto.




publico antes que alguém faça...

quarta-feira, julho 29

Beto porra

A mesa tinha de ser grande para comportar um verdadeiro exército: os pais, os avós, de vez em quando um tio abrigado por estar desabrigado ou tuberculoso, e mais quatro filhos. Às vezes cinco. Cinco. Fora, claro, os fugitivos de uma São Paulo em guerra contra a ditadura militar.

A filha mais velha, já fora de casa, mandava alguns para a casa grande quando a coisa apertava com algum estudante. Era mais um para ocupar aquela mesa. Ok, ocupava o lugar da primogênita. Mas era mais um para comer da mesma comida que muitos senadores, diplomatas e outros homens e mulheres importantes já tinham comido ao terem passado por aquela mesa. Mais um para fazer barulho e interromper uma possível refeição em paz, paz essa imposta às duras penas, já que, só de filhos, eram cinco. Cinco.

Alguns desses enviados especiais eram ilustres desconhecidos de todos. Inclusive da responsável por mandá-los. Um deles, tinha a alcunha de Beto Porra. Isso mesmo, sem sutilezas. O apelido vinha do fato de o sujeito não usar vírgulas, mas, sim, porras. Ele, o general, até que tinha paciência com a filha, afinal, estava longe, aos 20 anos, cuidando da própria vida. Recebeu outros "delinqüentes" sobre os quais não sabia - ao menos oficialmente - que eram "procurados pela justiça".

Gente boa, a filha. Conhecia alguém que estava em apuros e imediatamente sugeria que ele passasse uma temporada na Cidade Maravilhosa, num dos melhores esconderijos. Ninguém poderia imaginar, nenhum policial do doi codi, nenhum militar imaginaria que naquela casa de classe média do Alto Leblon, ali, onde viviam os avós, os pais, mais um tio eventual, cinco crianças, e, ah, a babá, claro, a babá!, estaria escondido algum fugitivo da polícia. Até porque tratava-se da casa do general. Ele mesmo. Geisel. Ok, não propriamente o Homem, mais do seu legítimo sósia, que nem precisava de medalhas, fardas ou continência para ser parecido com o sujeito. Ele, que tanto prezava uma refeição calma, em silêncio, em paz.

Mas, Beto Porra, nunca mais.

domingo, julho 12

férias

Julho é um mês ingrato. Lá, em especial. Chove o tempo todo, faz frio, até.

Quatro crianças naquela casa enorme, uma avó e um avô. E o desafio de entreter todos os confinados. Campeonatos de dama, muito buraco, War de dois. Quando o tempo ajuda e não faz um frio de doer os ossos, o passatempo é outro. Mais ousado e que consiste na construção de incríveis castelos-fortalezas, empreendimento feito com esmero pelos primos engenheiros. Não faltam fossos, pontes e barragens para impedir que as violentas marolas da praia de Barequeçaba não penetrem na érea construída.

Mas no inverno nem sempre o passatempo favorito, a praia, é possível.

É preciso inventar. Encontrar soluções. A questão é que elas sempre aparecem nos cérebros maquiavélicos e criativos de pequenos seres de pouco mais de um metrô, mas cheios de energia.

O futebol na lama era um deles. Não só porque o futebol, em si, na chuva, cheio de poças (pôças e póças, diga-se de passagem) d'água, era muito divertido, como para irrita-La. Aquelas duas pestes a enlouqueciam.

"Eu vou mandar sua filha de volta porque ela não tem mais roupa limpa! Ela não sai da chuva e já jogou futebol com todas as roupas! TODAS! Vai ficar pelada!", ligava Ela desesperada para o filho mais velho, que ria do outro lado da linha como quem se vinga anos depois.

Não agüentava a neta malcriada. Mas aquela criança, no alto dos seus 6, 7, tinha muita energia. E ali era o paraíso, o momento de liberdade total. Ali, com o único que a acompanhava nas sórdidas escapadas de lanterna à noite - e voltavam os dois correndo, apavorados com a própria imaginação e os barulhos dos sapos coaxando. Parceiros de todas as malcriações, cúmplices do melhor da infância. Uma dupla e tanto. Bonny and Clyde do litoral paulista.
Temidos pelos avós, quase botaram fogo na casa. A sorte é que o quarto era todo de concreto e não havia muito para pegar fogo. Correram feito doidos para escapar da fumaça. e da bronca . O resultado não foi tão grave. Apenas alguns dias de castigo. Talvez dois dias sem poder jogar futebol - e, com isso, deu tempo para as roupas secarem!

Eram 15 dias assim em julho e outros dois meses inteirinhos no verão. Mas dessa vez com os pais de olho.

Tudo igual. O mesmo ponto de encontro. A mesma expectativa para encontrá-lo. A viagem era longa e a ansiedade deixava os pais enlouquecidos. Para isso, o remédio era viajar de madrugada, com crianças dormindo no carro. Mais tranqüilo.

Lá, as cianças dormiam no puleiro dos anjos (nome irônico). Pegavam no sono rapidinho com um dos pais contanto a história do Velho e o mar ou de Dersu Uzala. Ou enlouqueciam com o tio cantando "No baile da rua aurora" ou contando piadas indecentes e ridículas. Não dormiam, claro. Mas adoravam o turno dele, afinal, eram férias, ora bolas!

Para ela, ele era tudo. O primo mais velho, cúmplices eternos de muitas estripulias.

Ali era seguro. Podia-se tudo. Muita manga, muito peixe com farofa de milho, passeios até a cidade para tomar o-melhor-sorvete-do-mundo. O de coco tinha enormes tiras de coco. Tinha também o de amendoim ou o de creme com calda quente de chocolate. Mas ela pegava o que ele pegava.

quarta-feira, julho 8

quarta-feira, maio 13

Campinas 2

Ela teve quatro crianças. Não tinha nada contra elas. Ela só não gostava do conceito "criança", que dirá no plural. E, diga-se de passagem, eram quatro beeem especiais!


Para alívio dos meus pais, desde pirralha, passava boa parte das férias em outro estado, bem longe, para eles poderem se curtir um pouco.

Passava com Ela.

Talvez eu já soubesse desse certo desprezo/medo que ela tinha por crianças. Instinto, sei lá. Mas o estranhamento era mútuo. Talvez a distância entre Campinas e Rio de Janeiro também fosse um problema entre nós. Só nos víamos uma, duas vezes por ano, confinadas numa casa por um mês inteirinho. Uma olhando para a outra.

A casa era ótima. Não lembro com detalhes, mas lembro que, no quintal, lá estava ele. Sim, para mim era um ele. Pela forte influência paulista na minha vida, nunca tomei banho de mangueira, mas de esguicho. E ele era o responsável pela minha maior diversão. E tormento para Ela.

Tinha 3, 4 anos, no máximo. Mas, já naquela idade de micro-ser dei muita dor de cabeça pra muita gente. Mas em especial pra Ela. Não comia com ela, não tomava banho com ela. Era preciso uma minha tia e uma dela amiga pr'eu poder tomar banho. "Você vai me enlouquecer, menina!, sabe disso? Você vai me enlouquecer!", gritava pela casa. Com as duas eu me fartava. Adorava. Abria a torneira, esperava calmamente a água sair forte e colocava o esguicho em cima da cabeça. E tomava aquele banho.



E assim nasceu a nossa história de amor. Início de muitas férias juntas. De muitas farras, esguichos e cabelos brancos.


Para dona Aparecida.

Campinas 1

"Gira, gira, gira o botão. Gira, gira, gira, gira, gira! Gira logo, vai!"

"isso não vai dar certo, vai dar merda e ela vai ficar com muita raiva".

gira, gira, gira, gira, gira, gira, gira, gira.

E ele não parava de falar, bem no meu ouvido, como um diabinho, me tentando. É. Ele não tem coragem. Mas ele sabe que eu, sim. Eu era o pontapé inicial, eu era a primeira marcha que desencadeava todas as besteiras.

Foram alguns segundos, mas eu estava relutante. Não precisava nem me esforçar muito para girá-lo. Estávamos estrategicamente posicionados, escondidos e de cara com O botão.


Campinas quando se tem 5, 6 anos parece cidadezinha dessas pacatas, tranqüilas onde o tempo passa de vagar. Apesar da casa, com jardim e tudo, do primo favorito, da tia incrível e das brincadeiras sem parar, duas pestes juntas não poderia dar certo por muito tempo. A merda era inevitável. Era estado E duas crianças internacionalmente conhecidas por serem uns amores, mas também diabinhas, numa casa - simpática, com jardim e tudo -, com uma tia gravidíssima, não podia dar certo. Em algum momento ia desandar. Era estado e(i)minente constante.

Até que demorou esse momento. Demoramos para desandar.

Era preciso acontecer, entende? Fazia parte das férias, do contexto. Fazia parte do nosso caráter, do nosso aprendizado. Não, não havia, ali, uma alternativa.


Ela deu uma bronca daquelas, diga-se. E ficou dois dias sem falar com a gente. Ficamos de castigo (e precisava?). E eu, senti a culpa. Culpa por ter girado o botão. Culpa por ter, mais uma vez, me influenciado. Por ter decepcionado a tia que eu tanto amava. Mas, arrependimento? Hum, sei não...

terça-feira, maio 5

é brega, mas é lindo

Nouvelle Star, Camelia Jordana

Quelqu'un M'a Dit

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux

Refrain:
Pourtant quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

On dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou

Au refrain

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
"il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit"

Tu vois quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore, me l'a t'on vraiment dit...
Que tu m'aimais encore, serais ce possible alors ?

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos tristesses il s'en fait des manteaux,

Au refrain

Carla Bruni / Léos Carax

Sim, a primeira dama....


quinta-feira, abril 30

O que você vai fazer se estiver proibido de sair de casa?

Fiquei pensando muito nisso, sabe... E, caso tenhamos que ficar chez nous por causa da gripe suína, terei que comprar algumas coisinhas.

Pelo menos já tenho o Wii. Dois joguinhos não serão suficientes. Portanto, devo comprar mais alguns de occasion, claro, que é pra economizar, afinal, precisarei estocar comida, água e produtos de higiene.

Antes que atinja o grau máximo e seja a Pandemia, aproveito para passar nas bibliotecas onde posso retirar livros e retiro uma penca, já que tenho um mestrado para fazer. Assim poderei ficar com eles até o número descer. Pas mal, acho que termino o mestrado antes do tempo com a gripe por aí!

Talvez compre o Xbox também. We never know...

Ah, e passo na Variantes, na Descartes e na Star Player para comprar alguns joguinhos de tabuleiro (sim, é preciso diversificar!). Entre eles, o Pandemie para enviar pros ministros da saúde dos Estados Unidos, México e França. Ok, mando pro Temporão também.

De comida... compro uma ou duas baguetes. Infelizmente, não dá para estocá-las facilmente aqui em casa e, depois de umas 6 horas elas viram tacos de baseball.

Mas queijo dá fácil, fácil. Aí, não teria dúvidas: alguns quilos de cabra, parmesão italiano de qualidade, grana padano, gruière, comté, cremeux, muito queijo de raclette, e tá de bom tamanho.

batatas para a raclete. E jambon também.

De repente é bom também guardar umas latinhas de patê, um magret de canard e um bom azeite.

A carne daqui eu dispenso.

E você? Do que precisa para viver trancafiado em casa?

segunda-feira, abril 20

O agudo

Os agudos sempre de deixaram tensa. Numa música, na minha opinião, eles são arriscados, perigosos. Mas, se bem feitos, dão cor à canção. Mas não é qualquer um que faz bem! Para mim, é algo que pode soar horrível e beirar o ridículo. Arrisca de doer o ouvido, estourar os tímpanos.



Pensei nesse post ouvindo a dupla Lily Allen & Deborah Harry para a versão do clássico do fim dos anos 70, Heart of Glass. Depois, pensei até em fazer outro post com as inúmeras versão para a música. O mundo já fez versão para essa música. Mas primeiro o post agudo.



Lily Allen & Deborah Harry - Heart of Glass


Bom, não quero comentar aqui, vídeo por vídeo, mas esse "choque" de gerações é excelente. Deborah continua ótima, com uma voz que faz um contraste absurdo com a da Lily, que é aguda-à-beira-de-um-ataque-de-nervos, ou seja, quase incomoda no ouvidos. Quando a Lily Allen canta pela primeira vez "Once I had a love", ela quase, quase estraga tudo. Mas não chega a machucar. Lily faz parte do grupo de cantores/cantoras que está na linha limítrofe e que, se passar, pode causar sérios danos auditivos.


Outro agudo que me veio à cabeça logo imediatamente é o de Mika. Ok, o libanês-britânico é polêmico, mas ele faz pop-chiclete bem feito.


Mika, Grace Kelly

Um dos seus agudos que mais me impressiona é o da música Grace Kelly, quando ele canta os versos :
"I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtful
I could be purple
I could be anything you like"

é incrível. Ele não vacila!

Olhando os clips dele no youtube me dei conta de que o sujeito é a cara de outro agudo - esse em váaarios sentidos - Edson Cordeiro. Mas eu poupo vocês dessa e não vou colocar nada dele aqui.

O agudo final do post vai para a música que eu a-d-o-r-o. Kiss, do Prince (que, aliás, está impagável no clip. Ar latin-lover, com aquele bigodinho que deus-me-livre e, claro!, aquela blusinha baby look. Impagável).

Confesso que essa é uma das poucas músicas que eu prefiro uma regravação. É que esse é um caso de agudo no seu mais alto grau e, nos anos 80, isso me incomodava muito mais do que hoje em dia. E, importante colocar aqui, é que a regravação é de um moço bem mais grave.

(Prince Kiss)

quinta-feira, abril 9

Menino sujinho

Continuando com a série eu não tenho coordenação motora...



Sim, é brega. Je m'en fou. É contagiante...

terça-feira, abril 7

assassinato na pista de dança

Às vezes gostaria de saber dançar. Nem que fosse aqueles passinhos básicos da música abaixo, quando eles dançam juntos. Acho super sensual um corpo que sabe se mexer. Movimentos coerentes, harmônicos fazem toda diferença. E eu não tenho a mínima vocação pra isso. E assumo, mesmo. Sem problemas. Sou nule. pra onde vão meus braços mesmo? peraí, bacia para um lado, pé esquerdo na direção oposta e ooops, o direito resolve transpassar o esquerdo e pronto, perco o equilíbio, mas para não cair faço movimentos grotescos e ridículos.
Mas c'est la vie...

Então, como não sei dançar, gosto de clipes com pessoas dançando. Fico me imaginando com o povo, em perfeita sincronia.

Essa música tem várias frases muito profundas e lógicas como

"
It's murder on the dancefloor
But you better not kill the groove"

mas a minha preferida é a
"Dj, gonna burn this goddamn house right down"

mas também traduzida como "vamos arrebentar com isso aí!" (para que o site continue próprio próprio para menores)



quinta-feira, março 26

Na terapia, parte I: orgulho, bandeira e dinheiro

Não lembro o que estava fazendo. Talvez dever de casa, lendo um livro ou simplesmente vendo TV. Minha mãe chegou perto de mim, olhar sério, quase com dó.
- Filha, que tal fazer terapia? Acho que vai ser importante para você.

Eu, no alto dos meus 11 anos, achei por certo aceitar. Afinal, aquela cara de consternada, preocupada pelo meu destino me pareceu grave demais para dizer não. Será que sobreviverei sem terapia? O que é terapia, exatamente? Não, Isabel, foca, foca. É grave e eu preciso fazer. Vai ser importante para o futuro. Será que eu vou descobrir o que vou ser quando crescer?

Ok, lá fui eu.

É, não é de um todo mal. Por que eu estou aqui, mesmo? Ah, sim, separação. Será que eu vou ter duas mesadas?? Isabel, foca!

Havia dias que não falava nada. Entrava muda, saía calada. Havia meses que esquecia o cheque. Puuutz, que merda. Aí, tinha que ouvir: "pagar faz parte do processo, Isabel". Bah, claro, a gente paga tudo. Paste de dente, material escolar, discos, comida, por que não terapia?! como se eu fosse me tornar uma caloteira só porque esqueci o tal do cheque...

Falávamos de tudo. Ou quase tudo, ou você acha que uma criança de 11 anos não engana bem o terapeuta? rah. Esqueci muitas sessões, cheguei antes da hora, depois da hora. Passei pela fase do "cara, você P-R-E-C-I-S-A fazer terapia, é a melhor coisa do mundo!", como esqueci um milhão de vezes que quarta-feira, há dois anos, era dia de terapia! Mas, parafraseando um chefe meu: quando menos se espera a quarta-feira chega!

Certo dia, comentei sobre minha tristeza de não jogar com ninguém. Irmão mais velho e pouco interessado no assunto, pais sem paciência para jogar com a filha e amigos ainda pouco presentes no pós-escola (tá bom, eu fiz drama). No fim, ele disse para eu escolher um jogo para jogarmos na semana seguinte.

Cara, incrível! Meu terapeuta joga! Ele entra mudo, sai calado durante os 45 minutos que estamos cara-a-cara, mas ele quer jogar comigo. Claro, claro, faz parte do processo terapêutico, claro. Caramba, o que que eu levo?

Tem que ser algo não muito longo e nada que demonstre muito meu lado obsessivo, autoritário ou "quero ganhar, quero ganhar". Ok, NO War. Também não pode ser nada bestinha, supérfulo. Jogo da Vida, fica.... Banco Imobiliário é insuportável e o meu xadrez é um chumbo, fora que podem levar horas, dias, meses! Ok, só me resta um: Combate. Joguinho tranqüilo (já disse que tenho dois anos para continuar usando! e vou continuar até o fim! e, sim, vou ser a "mãe velhona que escreve errado"), fácil, se precisar explicar as regras, tá seguro. Pronto, é esse mesmo.

Esse dia não esqueci, cheguei antes e me preparei.

Não lembro se expliquei as regras. Tenho cá pra mim que ele já conhecia. Bom, enfim. Começamos a colocar as peças. Peraí... e se eu ganhar? E se eu perder? Como é que a gente fica? Tudo bem? Humilhante demais? Aiai... será que eu deveria ter começado essa história toda? É meu terapeuta, ora! Eu tenho medo dele! Putz, onde boto a bandeira, onde boto a bandeira?!???!!!! Aqui, bunitinha, cercada de bombas e números. Sim, disfarçando aqui, botando uns setes ali, e pronto. Podemos começar.

Jogo vai, jogo vem, ninguém fala muito. Concentração, afinal estou atacando meu terapeuta e... oops, bomba!

Faltam apenas cinco minutos para a sessão e, pronto, é a vez dele me atacar pesado. Ele olha no relógio e começa. Número? bomba. Três. Número? Bomba. Três. Número? quatro. Ufa. por pouco. E lá fui eu. Precisava de medidas radicais para compensar. Ele está quase lá. Número? Bomba. O que? Bomba? como assim? Estamos na segunda fila, nada demais e ele já mete assim, uma bomba???! Que estratégia é essa???!!!
E lá se foi meu general... ai.

E lá vai ele... número? Quatro. Sete. Número?

Saio cabisbaixa. Se bobear, foi dia de pagamento também. Deixei orgulho, bandeira e dinheiro. Tudo de uma vez, em 45 minutos.

Coincidência ou não, depois desse dia passei a faltar sucessivamente. Coincidência ou não, comecei a dizer que terapia não era para todo o mundo e que talvez não precisasse. Pra que, não é mesmo?

sexta-feira, março 13

Andy, Je suis désolée


Vocês me deixam ressuscitá-lo?

Lá vem o pato

Depois de fazer a já tradicional ronda dos blogs, vi que pas mal entre eles falava de um incrível almoço no último fim de semana, no Rio. Antes que alguns falem que esse é um post-inveja, digo logo que não. Senti foi saudades. Saudades do japa, dos risotos - vocês precisam nos visitar para conferir in loco como a gente evoluiu no de frutos do mar e no roquefort com champignon - e de tantos outros pratos.

Mas, como poderia me esquecer??? Nós aqui também tivemos um almoço dos deuses! Sem amigos, é verdade. Mas Tânia e eu e meia garrafa de vinho já fazemos aquela festa!!! Sim: vinho, Tânia e Bel numa mesma frase sem ser na negativa!*

Fiz um magret de canard com molho de mel e vinagre balsâmico.
Coisa de louco. Maravilhoso. Carne ultramacia, uma beleza. Mas não dá para comer sempre. Uma vez por ano tá bom. Carne gordurosa, me deixou enjoada por umas 48 horas. Mas, sim, claro, valeu muito a pena. Pena que não tiramos foto. Além de tudo, estava lindo. Como acompanhamento fizemos uma salada e quinoa (que é pra ver se contrabalanceava, mas neguinho aqui faz batata frita mesmo).

Para quem não sabe, a dica primordial é fazer uma rede quadriculada com uma faca na parte da gordura, sem alcançar a carne. Numa frigideira bem quente, coloque o magret com o lado da gordura para baixo. A gordura vai se liquefazer e você a retira aos poucos (sim, vai engordurar toda a pia). Quando estiver quase sem gordura, vire o lado e deixe por 5 ou 7 minutos, (os franceses gostam de uma carne beeeem sangrenta). Depois, reserve a carne com um papel de alumínio no forno. Ligue, mas deve fraco. Será apenas para mantê-lo quente enquanto você faz o molho.


Na mesma panela do canard, coloque três colheres de sopa de mel, umas três colheres de café de vinagre balsâmico, sal e pimenta. Atenção para não ferver.

Corte o pato em fatias e jogue o molho. Divirta-se.









* Explico: é que depois da soirée de jogos com os franceses ficou um Chadornay aberto na geladeira. E, como alguns bem sabem, ela é um frigobar um pouco mais desenvolvido, ou seja, não cabe nada. Aí, para esvaziar um pouquinho resolvemos eliminar a garrafa de vinho.



segunda-feira, janeiro 5

Na geladeira

As outras vezes foram sem graça. Fraquinha, a neve virava água assim que entrava em contato com meu rosto ou meu casaco. Mas dessa vez foi pra valer. Mais consistente, forte, durou horas e horas, acumulando-se sobre os carros, asfalto, bancos, folhas das árvores, calçadas. Tudo branco. Fico imaginando como está na beira do Sena, como está na Torre Eiffel, na praça da Concorde. Nossa, deve estar lindo.

Mais tarde vi uma matéria na TV pública francesa - que agora não tem mais publicidade! O Champs de Mars está lindo. Devia ter ido pra lá.




Entrada do galpão onde fica o Tendance Floue


Banco em Montreuil: a foto que eu tentei enviar a algumas pessoas, mas que não funcionou...


Alguém já andou sobre a neve? É muito gostoso - isso quando você não está deslizando involuntariamente, claro: lembra um grande plástico bolha, que faz barulhinho bom.

Algodão doce pra você!


Hoje, com média de -4 ºC, o dia foi tranqüilo (sim, com trema!). Amanhã o bicho vai pegar. Há quem diga que a máxima será de -6 ºC (sim, máxima) e a mínima de -11 ºC. E aí? Vai encarar?