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sexta-feira, julho 31

mais lembranças da infância

boas lembranças do tempo que não existia colesterol, mitocôndrias nem o politicamente correto.




publico antes que alguém faça...

quarta-feira, julho 29

Beto porra

A mesa tinha de ser grande para comportar um verdadeiro exército: os pais, os avós, de vez em quando um tio abrigado por estar desabrigado ou tuberculoso, e mais quatro filhos. Às vezes cinco. Cinco. Fora, claro, os fugitivos de uma São Paulo em guerra contra a ditadura militar.

A filha mais velha, já fora de casa, mandava alguns para a casa grande quando a coisa apertava com algum estudante. Era mais um para ocupar aquela mesa. Ok, ocupava o lugar da primogênita. Mas era mais um para comer da mesma comida que muitos senadores, diplomatas e outros homens e mulheres importantes já tinham comido ao terem passado por aquela mesa. Mais um para fazer barulho e interromper uma possível refeição em paz, paz essa imposta às duras penas, já que, só de filhos, eram cinco. Cinco.

Alguns desses enviados especiais eram ilustres desconhecidos de todos. Inclusive da responsável por mandá-los. Um deles, tinha a alcunha de Beto Porra. Isso mesmo, sem sutilezas. O apelido vinha do fato de o sujeito não usar vírgulas, mas, sim, porras. Ele, o general, até que tinha paciência com a filha, afinal, estava longe, aos 20 anos, cuidando da própria vida. Recebeu outros "delinqüentes" sobre os quais não sabia - ao menos oficialmente - que eram "procurados pela justiça".

Gente boa, a filha. Conhecia alguém que estava em apuros e imediatamente sugeria que ele passasse uma temporada na Cidade Maravilhosa, num dos melhores esconderijos. Ninguém poderia imaginar, nenhum policial do doi codi, nenhum militar imaginaria que naquela casa de classe média do Alto Leblon, ali, onde viviam os avós, os pais, mais um tio eventual, cinco crianças, e, ah, a babá, claro, a babá!, estaria escondido algum fugitivo da polícia. Até porque tratava-se da casa do general. Ele mesmo. Geisel. Ok, não propriamente o Homem, mais do seu legítimo sósia, que nem precisava de medalhas, fardas ou continência para ser parecido com o sujeito. Ele, que tanto prezava uma refeição calma, em silêncio, em paz.

Mas, Beto Porra, nunca mais.

domingo, julho 12

férias

Julho é um mês ingrato. Lá, em especial. Chove o tempo todo, faz frio, até.

Quatro crianças naquela casa enorme, uma avó e um avô. E o desafio de entreter todos os confinados. Campeonatos de dama, muito buraco, War de dois. Quando o tempo ajuda e não faz um frio de doer os ossos, o passatempo é outro. Mais ousado e que consiste na construção de incríveis castelos-fortalezas, empreendimento feito com esmero pelos primos engenheiros. Não faltam fossos, pontes e barragens para impedir que as violentas marolas da praia de Barequeçaba não penetrem na érea construída.

Mas no inverno nem sempre o passatempo favorito, a praia, é possível.

É preciso inventar. Encontrar soluções. A questão é que elas sempre aparecem nos cérebros maquiavélicos e criativos de pequenos seres de pouco mais de um metrô, mas cheios de energia.

O futebol na lama era um deles. Não só porque o futebol, em si, na chuva, cheio de poças (pôças e póças, diga-se de passagem) d'água, era muito divertido, como para irrita-La. Aquelas duas pestes a enlouqueciam.

"Eu vou mandar sua filha de volta porque ela não tem mais roupa limpa! Ela não sai da chuva e já jogou futebol com todas as roupas! TODAS! Vai ficar pelada!", ligava Ela desesperada para o filho mais velho, que ria do outro lado da linha como quem se vinga anos depois.

Não agüentava a neta malcriada. Mas aquela criança, no alto dos seus 6, 7, tinha muita energia. E ali era o paraíso, o momento de liberdade total. Ali, com o único que a acompanhava nas sórdidas escapadas de lanterna à noite - e voltavam os dois correndo, apavorados com a própria imaginação e os barulhos dos sapos coaxando. Parceiros de todas as malcriações, cúmplices do melhor da infância. Uma dupla e tanto. Bonny and Clyde do litoral paulista.
Temidos pelos avós, quase botaram fogo na casa. A sorte é que o quarto era todo de concreto e não havia muito para pegar fogo. Correram feito doidos para escapar da fumaça. e da bronca . O resultado não foi tão grave. Apenas alguns dias de castigo. Talvez dois dias sem poder jogar futebol - e, com isso, deu tempo para as roupas secarem!

Eram 15 dias assim em julho e outros dois meses inteirinhos no verão. Mas dessa vez com os pais de olho.

Tudo igual. O mesmo ponto de encontro. A mesma expectativa para encontrá-lo. A viagem era longa e a ansiedade deixava os pais enlouquecidos. Para isso, o remédio era viajar de madrugada, com crianças dormindo no carro. Mais tranqüilo.

Lá, as cianças dormiam no puleiro dos anjos (nome irônico). Pegavam no sono rapidinho com um dos pais contanto a história do Velho e o mar ou de Dersu Uzala. Ou enlouqueciam com o tio cantando "No baile da rua aurora" ou contando piadas indecentes e ridículas. Não dormiam, claro. Mas adoravam o turno dele, afinal, eram férias, ora bolas!

Para ela, ele era tudo. O primo mais velho, cúmplices eternos de muitas estripulias.

Ali era seguro. Podia-se tudo. Muita manga, muito peixe com farofa de milho, passeios até a cidade para tomar o-melhor-sorvete-do-mundo. O de coco tinha enormes tiras de coco. Tinha também o de amendoim ou o de creme com calda quente de chocolate. Mas ela pegava o que ele pegava.

quarta-feira, julho 8